29 de mai. de 2011

Preso no armário

30/05/2011
Preso no armário

O que é meu é meu!
Ninguém toma o que é meu! Faz parte de mim, está aprisionado no meu armário. Só eu posso sentir, só eu posso usar. As pessoas só poderão admirar no meu corpo, no meu jeito. Eu não empresto! Se o empréstimo valer à pena, eu penso. Eu decido se você vai usar ou não. Tem que me pedir. As coisas quebram estragam. Mas só eu posso estragar!
Às vezes é uma merda dividir. Odeio pensar coletivamente. Um dia desses meu pai me disse: “O que é seu é seu, ta guardado. Sem egoísmo não vivemos”. Ouço essa frase e penso: “Existe o que é meu? Esse meu de fato será estático?”. Usamos as pessoas como usamos os objetos. Os perfumes, os sapatos, as roupas...como se comprássemos.
Será que existe um lugar onde tenha um baú? Com o que há de mais raro, onde todos podem desfrutar de tudo, com cuidado e devolver para o baú, se não devolver, pratiquemos o desapego. A gente não leva nada! Aquele casaco azul parecia que eu estava roubando. Roubando seu amor, roubando a sua esperança de vê-lo, a sua segurança de ir viajar para o outro lugar do mundo e encontrá-lo. O mesmo. Tem que ser o mesmo. O meu homem, que me deu aquele casaco que não muda. Seria tão confortável para nós se as pessoas fossem como objetos. “Eu compro outro igual, não tem problema. Tudo foi solucionado. É um casaco azul de tamanho M com o botão azul mais claro e blá, blá, blá...” Não é que eu não entenda o valor simbólico das coisas. Das raridades que nos são dadas. Entendo até a mesquinhez de não dividir e possuir vários bens, o meu bem. Mas na verdade, você não possui nada. Nem o controle do seu corpo. Você chora, ri, grita, sem saber por quê. Eu quero morar nessa terra do baú. Onde tudo e meu, é seu, é nosso, é nada e é tudo em algum momento. Quando perdemos o que é nosso. Perdemos o referencial. O que é meu é tão importante para mim – por que me reconheço. Eu reconheço que sou. Eu me perco sem você. Estou num descampado com céu azul em uma borracharia de banquinha, um lugar ermo. Um senhor de bonezinho verde, pequeno, barbudo. A sua barba é bem branca. Ele não têm conta e a banca não é dele. É da rua. Mas ele sabe o que não têm. Talvez essa seja a maneira dele se reconhecer no mundo.

Acabei de perder minha caneta,engraçado. Eu filosofando sobre posses e perdas e perco minha caneta! Objeto que me faz ser. Ser algo, alguém, para não enlouquecer. Eu parei e falei “ Não escrevo então, observo” . Possuo o pensamento, o que não e matéria, que vai flutuar, transitar e não parar na minha cabeça. Vai voar com o vento, ate perder-se no meio do céu sem nuvens.

Buscamos o reconhecimento o tempo inteiro.

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